Deixa eu te contar uma coisa: hoje é o dia da Secretária!
E eu, sou secretária, já fui secretária e acho que, mesmo que mude de profissão, sempre serei secretária de mim mesma!
Sou secretária por escolha? Não. Mas foi o caminho aberto para a minha vida.
Sou uma boa secretária? Sim. E seria boa em qualquer outra profissão, pois eu não trabalho pelo chefe ou pelo outro ou por você. Eu trabalho sempre por Deus. E o que aprendi na vida e carrego comigo sempre é: não importa o que você faça, desde que faça direito e dê o seu melhor.
Claaaaaaaaaro que sempre existem os dias de estresse, de TPM, de saco-cheio, de raivas, de desânimos, de soltar um "puta-que-pariu", de pegar minhas coisas e ir ser feliz na minha casa. Mas, acredito que isso faça parte de qualquer meio. O importante é não deixar que fatores externos interfiram na minha consciência de que eu sou o que sou e como sou, por mim.
Blá, blá, blá... vou contar uma história.
Certa vez estava eu procurando emprego, distribuindo currículos à bessa, quando fui convidada a participar de uma seleção para ser recepcionista em um hotel. Foi um dia inteiro de dinâmicas, desenhinhos, conversas com psicólogo, questionários, etc.. etc.. Tinha um montão de gente participando...
Não fui selecionada, mas a empresa da seleção me contatou para outra entrevista em uma empresa de consultoria internacional. O cargo era para Secretária. Fui eu, linda, magra e loira para a tal da entrevista, que foi feita pelo próprio dono da empresa. Era um escritório pequeno de uma empresa grande. Trabalharíamos apenas ele e eu naquele lugar.
O entrevistador era americano e me fez umas perguntas básicas, como uma conversa mesmo. O interessante foi que, mesmo que ele fosse americano, em nenhum momento conversou comigo em inglês.
Consegui o cargo, com os 90 dias de experiência. Juro que não estava entendendo bulhufas daquele método norte-americano de lidar com as coisas, mas quem foi que disse que na vida não há desafios, né? O primeiro dia foi super tranquilo: atendi uns telefones, fuçei nos arquivos pra entender algumas coisas, bisbilhotei a agenda... Tudo joinha.
O segundo dia que foi o Ó! O danado do aparelho telefônico tinha vários botõezinhos lindos, fofinhos que, quando tocavam, acendiam uma luz vermelha simpática. Minha curiosidade insistiu em me perguntar pra quê aquele tanto de linha e ramal se havia só uma pessoa ali, além de mim?
Foi então que descobri um botão desses de luz vermelha no cantinho do telefone. Ele ainda não tinha tocado... mas quando tocou foi decisivo:
- "Empresa xxxxx, Patrícia, bom dia!"
- "Não sei o quê, não sei o quê, não sei o quê, não sei o quê, não sei o quê, não sei o quê...?"
- Túúúú.....
Entendeu alguma coisa? Eu também não. Era em inglês.
Menos de um minuto depois:
- "Empresa xxxxx, Patrícia, bom dia!"
- "Não sei o quê, não sei o quê, não sei o quê, não sei o quê, não sei o quê, não sei o quê...?"
(Eu não sabia se eu ria, se eu chorava, se eu balbuciava um pedido de "poderia falar mais devagar", se eu gritava, se chama o Chapolin Colorado...)
- Túúúú...
Conclusão: o tal do botão de luz vermelha no cantinho do telefone era de uma linha direta dos Estados Unidos. Então, quem ligava achava que estava falando dentro dos Estados Unidos. E sempre, sempre, sempre que a luz vermelha daquele botãozinho acendesse, era certo de que a ligação era em inglês.
Óóóóóóóóó´... Me ferrei.
Aguentei até o final do terceiro dia. Juro que tentei falar, tentei deixar um textinho semi pronto, tentei pedir pra falarem mais devagar... mas o fato é que eu não consegui. Eu já tinha trauma de inglês e o fato piorou tudo.
Ao final do terceiro dia fui lá na sala do chefe. Pensamento: fica calma e fala.
Fiquei calma e falei. Falei que eu não ia continuar lá por causa disso, disso, disso e disso. Eu poderia bem enrolar os 3 meses de experiência, mas achei melhor ser prática com o meu tempo e com o tempo dele, pois ainda dava pra ele reconsiderar as outras entrevistadas junto comigo. E, ainda, disse que conhecia uma pessoa que havia morado nos Estados Unidos, precisando de emprego e poderia indicar.
Fui frouxa, burra, retardada e desistente? Fui.
Mas, acima de tudo, pra mim, fui honesta.
Ele topou entrevistar minha indicada, e desta vez teve perguntas em inglês na entrevista (hihihihi - viu como ele aprendeu comigo?). E pasmem, minha indicada disse que ele super me elogiou pra ela, pela minha honestidade e caráter! Óóóóóóóó... ganhei uma estrelinha! Ele acabou contratando minha indicada e todos foram felizes para sempre.
Passou o tempo, secretária entrou, secretária saiu... E um dia ele me ligou. Falou que a secretária anterior era ótima com inglês, ficou um bom tempo trabalhando com ele, mas depois de certo tempo, ele descobriu que ela estava roubando $$$ do cofre. Muito triste, né? Também achei.
Ele me pediu pra voltar pra lá e que, mesmo que eu não me comunicasse bem em inglês, eu tinha a confiança dele, e a gente dava um jeito com o inglês, colocava um SIGA-ME pro celular dele, sei lá. Mas ele preferia alguém em que ele confiasse a alguém que falasse todas as línguas do mundo.
Se voltei a trabalhar com ele não vem ao caso. Mas foi revigorante ver que aquilo em que eu tanto acreditava - a minha honestidade - tinha sido valorizada.
Se você é secretária, ou não, que seja honesto.